Postado em quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

"A educação é a arma mais poderosa do mundo"

Oriunda da escola pública, jovem obtém bolsa em Harvard e hoje trabalha para mudar a educação brasileira


Do Carta Capital

Com apenas 23 anos, Tábata Amaral de Pontes é fundadora e gestora do movimento Mapa Educação. A sua história é, porém, muito mais espetacular do que esse fato.

De uma família humilde da periferia de São Paulo, Tábata ganhou inúmeros prêmios em competições estudantis e chegou à graduação da Universidade de Harvard, onde apresentou tese de conclusão sobre a relação entre política e educação no Brasil.

Tábata conta como a sua história e da sua família provam que o oferecimento de oportunidades mais similares a toda a população, sobretudo no que toca à educação, é fundamental para tornar o Brasil um país desenvolvido no futuro.

Com esse objetivo, ela elaborou sua tese em Harvard e criou o Mapa Educação, ambos explicados na entrevista abaixo.

CartaCapital: Você poderia explicar a relação entre sua tese e sua trajetória?

Tábata Pontes: A minha tese de graduação em Harvard teve como tema “The Politics of Education Reform in Brazilian Municipalities” (“Uma análise política da implementação de reformas educacionais em municípios brasileiros”).

A pesquisa tem grande relação com a minha trajetória. Eu venho de família humilde, meu pai não completou o Ensino Fundamental e minha mãe só completou o Ensino Médio há alguns anos, mas eles sempre valorizaram a educação e fizeram o impossível para que eu e meu irmão pudéssemos nos dedicar aos estudos.

A minha primeira grande oportunidade educacional veio com a 1ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) na 5ª série, primeira demonstração do impacto positivo que boas políticas públicas podem ter na vida de milhões de pessoas. Fui premiada na OBMEP na 5ª e na 6ª série, o que me levou a receber uma bolsa completa de estudos em uma escola privada de altíssima qualidade em São Paulo.

Eu moro na periferia de São Paulo e o Etapa fica no centro da cidade. Essa segunda grande oportunidade mostrou como o Brasil é marcado pelas desigualdades e como dois mundos completamente diferentes podem estar a uma hora e vinte minutos de distância de ônibus e metrô.

CC: Como isso aconteceu?

TP: O meu pai era cobrador de ônibus de uma linha que ia do nosso bairro, Vila Missionária, até o Itaim Bibi, bairro nobre de São Paulo. A minha mãe também já tinha trabalhado no centro da cidade como diarista e vendedora.

No entanto, o primeiro contato real com a desigualdade brasileira veio na vivência da enorme diferença da qualidade de ensino entre a escola estadual e o Etapa.

Ficou clara a baixa qualidade das escolas públicas que estava alimentando a grande desigualdade socioeconômica do Brasil. Ficou claro também que só a educação é capaz de transformar a vida das pessoas permitindo sonhar e realizar.

Após estudar muito, no segundo ano do Médio, cheguei à primeira competição internacional representando o Brasil na Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica na China. Nessa época consegui uma bolsa para estudar inglês com a ajuda de amigos e da escola.

Foi também nessa época que alguns problemas familiares pioraram. Meu pai começou a desenvolver algumas doenças psicológicas e seus vícios pioraram. A situação financeira da família piorou muito e já não era possível pagar as minhas passagens de ônibus e metrô para a escola, nem o lanche.

Ao explicar a situação para um professor, o diretor da escola entrou em contato com minha mãe e, a partir do dia seguinte, eu fiquei alojada em um hotel perto da escola durante a semana e o colégio foi o responsável pelos gastos.

Para aguentar firme essa fase, foquei mais nos estudos e no Projeto VOA! – Vontade Olímpica de Aprender, que havia fundado com alguns amigos logo antes de começar o ensino médio. O objetivo do projeto é preparar nos finais de semana alunos de escolas públicas para olimpíadas científicas.

No Ensino Médio, representei o Brasil em cinco competições internacionais, conhecendo a China, a Turquia e a Polônia. Começaram, então, os processos seletivos desafiadores de universidades brasileiras e americanas.

CC: Como foi essa fase e a chegada a Harvard?

TP: Fui aprovada em Física na USP e comecei a trabalhar como professora de astronomia e química enquanto cursava a faculdade. No dia 8 de março de 2012, recebi a melhor notícia da minha vida: havia sido aprovada na Universidade de Harvard com bolsa completa.

Mas, a vida é uma montanha russa e, quatro dias depois, os vícios de meu pai o levaram a óbito. A vida deixou de fazer sentido e, com minha mãe desempregada, saí da faculdade. Decidi que já não me importava com as universidades americanas e que precisava continuar trabalhando.

Foi nesse momento que, de novo, alguém acreditou em mim. Uma funcionária e grande amiga do colégio comprou uma passagem para que eu visitasse as seis universidades pelas quais havia sido aceita com bolsa completa e entendesse a dimensão da minha decisão.

Às pressas, visitei as universidades e me encantei. Tudo aquilo era tão diferente do que havia visto e tão maravilhoso que decidi seguir o sonho de estudar nos Estados Unidos para, assim, mudar a vida da minha família. No dia 1o de maio de 2012, escolhi a Universidade de Harvard.

Desde então, muitas coisas aconteceram, como a mudança de curso para Ciências Políticas, tendo Astrofísica se tornado o curso secundário, e o drama sofrido pelo meu irmão.

Carta Capital


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