Postado em terça-feira, 12 de novembro de 2013
às 17:20
Agrônomo denuncia capina química “ilegal” em Alfenas
O agrônomo Demes da Mota usou a tribuna da Câmara para denunciar a utilização de capina química em Alfenas.
Alessandro Emergente
O engenheiro agrônomo Demes Nunes da Mota usou a tribuna da Câmara Municipal, na sessão legislativa de segunda-feira, para denunciar a utilização de capina química em Alfenas. A prática, segundo ele, é proibida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária ), órgão ligado ao Ministério da Saúde.
Segundo o engenheiro, a prefeitura estaria utilizando herbicida Roundup com a classificação “NA”, registrados no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). A classificação corresponde a herbicidas não agrícolas.
Mota afirmou que este tipo de herbicida é autorizado para áreas onde não há cultivo como margens de rodovias e ferrovias, pátio industrial, entre outros. Porém, não pode ser aplicado em área urbana. “É proibido o uso em ambiente não urbano”, enfatizou o engenheiro, que é coordenador da Comissão Regional de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Crsans Sul II) e mestre em agroecossistemas.
Orientação do Mapa
Além da nota técnica emitida pela Anvisa, proibindo o uso de herbicidas em área urbana, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) também publicou uma orientação técnica indicando a proibição. “Ele (o atual prefeito) está cuidando de Alfenas como um fazendeiro faz”, criticou Mota ao se referir a prática de empresários do agronegócio em utilizar herbicidas.
que envolvem a aplicação de agrotóxico em Alfenas (Foto: Alessandro Emergente)
O engenheiro exibiu, em slides apresentados em plenário, fotografias de funcionários da prefeitura aplicando herbicidas nas ruas de Alfenas, próximo a pedestres. Ele informou que a prefeitura realizou uma licitação para aquisição de 1 mil litros de herbicidas glifosato com a classificação “NA”. O caso já foi denunciado no Ministério Público (MP).
Outros problemas
Além da capina química, outros dois problemas foram apresentados pelo coordenador da Crsans Sul II: a pulverização aérea e a qualidade da água potável de Alfenas apresentada no boletim epidemiológico da Anvisa.
Pelo menos três princípios aparecem, no boletim da Anvisa sobre a qualidade da água potável, com índices acima do que é permitido pela legislação. A Antrazina e a Simazina aparecem com quantidades seis vezes acima do normal, enquanto o Molinato tem índice três vezes maior do que o permitido.
química, denunciado ao MP (Foto: Alessandro Emergente)
O boletim recomenda a redução da carga poluente de agrotóxicos nos mananciais e a identificação de estratégias tecnológicas durante as etapas de tratamento, que removam essas substâncias químicas da água destinada ao consumo humano.
Pulverização aérea
Outro grave problema apontado pelo engenheiro, especialista em agroecologia, é a pulverização aérea em Alfenas. Este tipo de prática, segundo Mota, foi proibido na Europa, migrou para Alfenas nos últimos três anos e vem aumentando.
De acordo com o engenheiro, somente 30% do agrotóxico lançado atingem a plantação. O restante – a maior parte – acaba poluindo outras áreas como o Lago de Furnas. “A pulverização aérea precisa ser proibida o mais rápido possível”, disse.
De acordo com estudos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), mesmo com calibração, temperatura e ventos ideais, a pulverização aérea deixa 32% dos agrotóxicos retidos nas plantas, 49% vão para o solo e 19% vão pelo ar para áreas circunvizinhas da aplicação.
O engenheiro sugeriu a Câmara Municipal a apresentação de um projeto de lei que proíba a pulverização aérea no município de Alfenas. A ideia foi contestada pelo vereador Waldemilson Bassoto (Padre Waldemilson/PROS) ao argumentar que a proibição deveria ser feita através de lei federal.
Na avaliação de Padre Waldemilson, caso Alfenas adote isoladamente uma lei restritiva poderá ser prejudicada economicamente, uma vez que empresários do setor de agronegócios migrarão investimentos de Alfenas para outros municípios da região. Ele sugeriu que a proposta seja apresentada ao deputado federal Padre João (PT), de qual Mota é assessor parlamentar na região.
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