Postado em quarta-feira, 2 de agosto de 2017

"Guia de sobrevivência" ajuda aventureiros ‘de bolsos vazios’ a planejar viagens internacionais

Amigos de Varginha lançaram livro com dicas e orientações para candidatos a ‘mochileiro’ e quem pensa em morar no exterior.


Planejar, pesquisar e estudar sobre o país. Para Tadeu Salgado, estes são os três verbos que resumem a possibilidade de qualquer um viajar para qualquer canto do mundo. Ao lado de Simone Póvoa, a dupla de Varginha (MG) acaba de lançar um livro prometendo ajudar os sonhadores de “bolsos vazios” a tirar qualquer plano de explorar outros países do papel.

As fotos não mentem. Munido de um “pau de selfie” e celular, Salgado conta suas experiências através das imagens dos 34 países que já explorou nos últimos anos. Atualmente trabalhando como professor de produção cultural na Universidade Federal da Fronteira Sul, em Cerro Largo (RS), ele jura que dificuldade financeira nunca foi razão para não realizar o sonho de conhecer o mundo.

“A primeira viagem internacional que realizei foi em 2009. Na época, era universitário e fazia um estágio que me pagava R$ 300 por mês. Quando eu consegui juntar uns R$ 3,5 mil, fiz um ‘mochilão’ para a Europa. Fui à França, Inglaterra, Irlanda, Itália e Vaticano. Viajei por 20 dias, fiz tudo o que queria fazer e fui a todas as atrações turísticas que queria conhecer.”

Simone já soma oito anos morando fora do Brasil. Passou pela Suécia, Suíça, Alemanha e há seis anos está nos arredores de Seattle, nos Estados Unidos, onde trabalha como analista de conteúdo para uma grande rede social. Nesse tempo, também rodou por outros vários países a turismo.

“Já ‘mochilei’ pela Europa, pegando trens e ficando em albergues. Já fiz um intercâmbio curto em Heidelberg, só para aperfeiçoar meu alemão. Já fui para morar um ano na Suécia e estudar na Universidade de Estocolmo. Já ‘turistei’ em cidades como Sydney, Nova York, etc., naquele esquema de levar malas, marcar transfer, ficar em hotel, fazer compras”, lista.

De diferentes formas, os dois fazem parte do círculo de pessoas que têm a experiência internacional como uma das prioridades na vida. Para Salgado, além da diversão do passeio, viajar muito com pouco o transformou numa pessoa muito melhor.

“Antes da viagem, eu era muito tímido, inseguro, sentia vergonha de falar inglês perto dos outros, achava que não era capaz de fazer algumas coisas sozinho. Depois da viagem, além de eu estar com mais conhecimento e mais assunto, eu fiquei mais social, mais seguro, mais maduro, menos materialista, minha autoestima aumentou e fiquei mais aventureiro. Por isso falo para todo mundo que viagem não é despesa, é investimento pessoal.”

Já Simone guarda a experiência de quem trocou o sossego do lar para viver experiências que considera incríveis e insubstituíveis.

“É incrível conhecer lugares e vivenciar culturas tão diferentes, ter experiências inusitadas e conhecer lugares e pessoas com os quais eu nunca teria sonhado. Por outro lado, a saudade da família e dos amigos de longa data é grande e constante. Se não fosse pelas facilidades da internet e dos smartphones que temos hoje em dia, não sei se daria conta. Sinto falta também de simplesmente estar no Brasil, de conviver com brasileiros o tempo todo, da comida, dos lugares, e até do clima – e olha que não sou fã de calor [risos]. O Brasil tem uma ‘vibe’ muito especial, que faz falta quando estamos longe.”

Sobrevivendo no estrangeiro

Apesar de serem conterrâneos e dividirem a amizade entre famílias, os dois só se conheceram há cerca de oito anos em Brasília (DF). A ideia de escrever um livro juntos veio ainda muito tempo depois. Desde que começou a morar fora, Simone fazia anotações já com a intenção de escrever a obra.

Em paralelo a isso, Salgado criou um canal no Youtube com o nome sugestivo de “Viajante Pão Duro”, onde dá dicas práticas e econômicas pra quem quer viajar muito gastando pouco. Você sabia, por exemplo, que é possível frequentar um resort na Indonésia com apenas R$ 20? Em um dos vídeos ele ensina a dica do "day use", em que você paga somente para passar o dia no hotel, usando a área de lazer do local. Além do canal, ele também dá diversas palestras sobre o assunto.

“Eu senti que faltava isso no livro, já que até então eu estava falando bastante só do lado de quem sai do país para morar fora”, lembra Simone. “Era véspera do meu aniversário e me deu um estalo de escrever pra ele e convidá-lo para o projeto. Ele topou na hora, e no dia seguinte já estávamos trocando mil mensagens com nossas ideias e visões para o livro.”

A obra reúne uma série de orientações pra quem tem vontade de sair do país, mas não tem a mínima ideia de por onde começar, com dicas, alternativas e sugestões para começar a planejar a viagem ou a mudança. “Como (sobre)viver no exterior” foi lançado de forma independente e disponibilizado na internet. Na mesma semana, ele entrou na lista dos mais vendidos da categoria turismo e viagem no site onde o livro é vendido.

Os autores falaram um pouco sobre suas principais experiências. Siga abaixo algumas dicas dos escritores.

Ir para o exterior é para você? E o que fazer por lá?

Para a dupla, qualquer ideia de querer vivenciar uma experiência internacional só precisa de um fator principal para se tornar realidade: a vontade que se tem de ter experiências fora do país. Depois, outros quatro fatores pesam no cálculo do tipo de viagem que você (realmente) quer fazer: personalidade, dinheiro, tempo e idade.

“Tem gente que não consegue se ver passando muito tempo longe de casa, mas é louco para desbravar o mundo. Uma experiência de ‘mochilão’ pode ser fantástica então. Já outros gostariam de realmente viver o dia a dia de um outro lugar, e preferem conhecer profundamente uma cultura diferente, do que ter contato com várias. Um intercâmbio cai como uma luva nesse caso. Existem ainda os que estão infelizes com fatores importantes de suas vidas no Brasil, e querem realmente mudar de vida e recomeçar. A mudança de caráter permanente é o que provavelmente irá satisfazê-los”, resume Simone.

A analista bate na tecla que ir para o exterior é para quem quer de verdade, o resto se ajeita, mas é realmente necessário querer muito, porque os preparativos são muitos e são desafiantes. Após passar por todos os tipos de experiências, ela afirma que para quem gosta, o ganho pela experiência compensa qualquer dificuldade.

“Cada experiência dessas tem um lado bom e um ruim, e traz certo tipo de aprendizado. Por isso acredito que antes de qualquer coisa, a pessoa precisa entender do que ela gosta, o que ela busca e o que ela quer tirar da experiência fora do país.”

Planejamento financeiro e documentação

O principal documento a estar em dia, obviamente, é o passaporte, mas a dupla alerta que é necessário ter em mãos, e em dia, no exterior outros documentos brasileiros importantes como a carteira de identidade e a certidão de nascimento. Em caso de furto ou perda do passaporte, eles facilitam imensamente tirar o documento de emergência em outro país. “É o tipo de coisa que se aprende só com a experiência”, ressalta Simone.

Ao ir atrás do visto, é bom pesquisar antes, para saber as exigências de cada país de acordo com o objetivo da sua viagem. Alguns destinos exigem que você tenha o Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia (CIVP), e é bom pesquisar também a necessidade do documento caso vá passar por outro país no trajeto, “por conta de ter que fazer uma conexão inesperada ou mesmo de bater a vontade de dar uma esticadinha”.

Outra boa dica para os estudantes é ter a Carteira Internacional de Estudante (ISIC), que dá bons descontos. A dupla afirma que é interessante também ter a Carteira Nacional de Habilitação e a Permissão Internacional, para poder alugar carro e dirigir no exterior – o que pode render bons trajetos alternativos e, às vezes, mais baratos.

Com relação ao planejamento financeiro, a dica principal é: tenha a viagem como prioridade no seu orçamento. “Mantendo o foco, mesmo com recursos limitados você consegue levantar os fundos que precisará”, incentiva Salgado.

É importante planejar com calma e antecedência também, pra ter a chance de comprar certas coisas aos poucos e economizar no orçamento final. “Quando eu fui para a Suécia, por exemplo, precisei montar um guarda-roupa de inverno que eu não tinha e nem encontrava para comprar em Brasília, onde morava. Mas como estava planejando com antecedência, aproveitei uma ida a Porto Alegre, por exemplo, para comprar gorro, cachecol, etc. Pedi a uma amiga que estava indo à Europa para reparar nos sapatos que o pessoal usava, coisas desse tipo.”

Outro ponto importante, segundo Salgado, é montar uma planilha para prever os gastos da viagem e assim não ser pego de surpresa. “E nunca guarde dinheiro em casa para poder viajar, pois não é seguro e nem rentável.”

Mergulhando na experiência e se quiser ficar pra sempre

Para os dois, a melhor forma de extrair tudo do país é mergulhar totalmente na experiência aprendendo a língua local, fazendo amizades com nativos, experimentando pratos típicos e os “comuns” (que muitas vezes são os verdadeiramente típicos) para aprofundar na cultura do lugar.

“Se envolver com questões locais fazendo trabalho voluntário, por exemplo, é uma forma de ter contato com o dia-a-dia, as pessoas e as questões daquele país sem necessariamente ter um visto de trabalho. Até arrumar um namorado nativo pode ser uma experiência bacana – mas lembre-se de que essas histórias muitas vezes terminam em casamento! Aí é pensar se está disposto a passar de intercambista a morar em caráter definitivo [risos]”, brinca Simone.

Na hora da saudade, a lista da modernidade sempre ajuda com Whatsapp, supermercados brasileiros e telefone pela internet para as pessoas poderem telefonar do Brasil como se estivessem ligando para um fixo de lá. E por fim, manter o espírito aventureiro sempre vivo dentro de você. O resto é sorte.
 

 

Fonte: G1 Sul de Minas



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