Postado em quarta-feira, 29 de julho de 2015 às 23:56

A sensação de quem mora em Alfenas ainda é de insegurança, diz comandante da PM

O comandante da 18ª Cia PM Independente faz um balanço da segurança pública em Alfenas e dos últimos seis meses.


 Denise Prado

Alfenas está em primeiro lugar no número de crimes violentos, no sul de Minas Gerais. Este dado foi divulgado pela Secretaria de Estado de Defesa Social que apontou Alfenas com 385 crimes, seguida por Passos com 271 registros. Em terceiro lugar ficou Pouso Alegre com 183 e, em quarto, Poços de Caldas, com 127 casos de crimes violentos (veja tabela).

Em entrevista exclusiva ao Alfenas Hoje, antes mesmo da divulgação destes números pela Seds, o comandante da 18ª Companhia de Polícia Militar Independente, tenente-coronel Josué Emerick, fez um balanço sobre seus seis meses à frente da Companhia PM. De posse de estatísticas, o oficial falou sobre os crimes contra o patrimônio (assaltos), a redução de outros crimes - que ainda considera pouco -, e o que está sendo feito para reverter este quadro.

De acordo com o comandante, o crime que mais incomoda o alfenense, no momento, é contra o patrimônio (assalto), pois “as pessoas lutam para ter algo – uns conseguem mais, outros menos – e vem alguém e rouba. Além de incomodar, traz a sensação de insegurança”. Ele explica que existe uma diferença entre furto (sem violência contra a pessoa) e o roubo (quando o autor está armado e/ou utiliza violência) e, este último, “infelizmente, tem aumentado”.

Ainda de acordo com o comandante, neste semestre já foi possível perceber uma pequena redução da criminalidade, mas que ainda não gerou impacto. Analisando os números, ele ressalta que houve uma redução maior, em relação ao ano passado, no número de furtos de veículos e a residências, mas lembra que “pode estar havendo uma migração”, ou seja, ao invés de furtar, o criminoso está roubando, o que deixa a população mais alarmada.

O comandante fala do não cumprimento de medida socioeducativas, o que impacta no aumento da criminalidade e na sensação de insegurança (Foto: Alessandro Emergente - Arquivo/Alfenas Hoje)

Para se ter uma ideia, no segundo semestre de 2014 em relação ao primeiro semestre de 2015, houve uma redução de 3,75% no número de furtos de veículos. Já em relação ao mesmo período, houve um aumento de 100% no número de roubos de veículos. Este ano foi furtado, até junho, 77 veículos (contra 80 no ano passado). Os roubos ficaram na casa de 63 no segundo semestre do ano passado e 126 no primeiro semestre deste ano.

Este ano, até junho, a polícia registrou ainda 87 roubos a transeuntes, 167 roubos a estabelecimentos comerciais e 146 furtos a residência – número que houve uma pequena redução.

No que diz respeito aos roubos, o tenente coronel explica que os que mais têm ocorrido são os praticados a transeuntes, estabelecimentos comerciais e a veículos. No primeiro caso seria o de menor potencial ofensivo, ou seja, o criminoso aborda a vítima na rua e leva “coisa pequena”. Já nos casos de roubos ao comércio e os de veículos, ele classifica como os mais ousados e os que mais incomodam a população.

Diante desta situação, o comandante lembra ainda que este aumento de criminalidade vem se agravando há mais de dois anos e, para reverter o quadro, “depende de a gente realizar um trabalho mais forte e é o que estamos fazendo”, comentando sobre o aumento de operações realizadas neste semestre.

Segundo dados da PM, desde o início de 2015 até o mês de julho, foram realizadas 2.634 operações, entre elas, antidrogas, fiscalização de trânsito, batida policial, incursão em zona quente de criminalidade, cerco/bloqueio/interceptação, patrulha rural, proteja seu bairro, prevenção ativa, entre outras.

Com estas operações, o comandante afirma que a polícia já identificou várias pessoas ligadas aos crimes contra o patrimônio e ao tráfico de drogas, além de que está sendo feito um forte levantamento para que outras operações sejam realizadas, juntamente com outros órgãos do sistema de Defesa.

Segundo ele, a polícia está realizando um mapeamento, inclusive dos receptadores, “pois se tem roubo é porque tem alguém comprando”. Para o tenente-coronel, determinados crimes ocorrem porque existe a demanda. O tráfico acontece porque há consumidores e os roubos ocorrem porque tem quem compra celular mais barato, carro clonado e assim por diante.

O trabalho está sendo realizado gradualmente, mas o comandante acredita que já esteja na hora de “fechar” este trabalho que teve início logo que assumiu o comando, pois “precisamos dar uma resposta melhor à sociedade”.

O maior problema: adolescentes

Para o tenente coronel, quando se fala em aumento da criminalidade, o primeiro pensamento da população é a de que faltam policiais e, consequentemente, a falta do trabalho ostensivo. Mas a realidade é outra: o número de adolescentes na criminalidade é grande e não há punições.

O comandante lembra que um adolescente não fica internado nem por um dia, pois não há centro de internação em Alfenas e nem na região, por enquanto. E o que é pior, não há vagas no sistema de medidas socioeducativas mantidas pelo governo.

Nesta questão, o comandante conta que se houver dez batidas policiais, dez adolescentes serão apreendidos, mas lembra que não há punição. Esta falta de medidas punitivas é que impactam a criminalidade em Alfenas. “Nós apreendemos o menor. A Polícia Civil faz o papel dela que é realizar o auto de apreensão. O menor é ouvido e confessa a infração. Logo depois é colocado na rua novamente”.

Como exemplo, ele citou um dos adolescentes que tem dado trabalho para a polícia, inclusive com assaltos não só em Alfenas como também na região. O infrator foi reconhecido no assalto em Monte Belo e em Alterosa. Ele foi apreendido e ouvido, mas na parte da tarde, ele já estava próximo à delegacia.

De aviãozinho a ladrões

Analisando a vida destes infratores, o comandante acredita que eles começam como aviãozinhos e, consequentemente, experimentam a droga passando, assim, a serem também dependentes. A partir daí, se transformam em pequenos traficantes.

Como usuários, estes adolescentes não têm parâmetro e daí começam a dever para os traficantes e, então, partem para os furtos e roubos. Lembrando que, com os roubos, o dinheiro é imediato.

Reverter este quadro, para o comandante, é difícil. O próprio oficial já participou de operações em que o adolescente é flagrado com “maço de dinheiro” e ele afirma que tem que sustentar a família.

O tenente-coronel acredita que, para não aumentar ainda mais o número de adolescentes na criminalidade, é necessário o trabalho de prevenção, envolvendo todas as esferas – municipal, estadual e federal. Pois um menino que ganha até R$ 2 mil em um único fim de semana não vai querer ganhar um salário mensal com o trabalho digno, ressalta o comandante.

Lado positivo

O tenente-coronel reafirma que, mesmo diante de todas as dificuldades, já se pode notar um lado positivo nas ações policiais, “pois aumentamos a nossa capacidade de fazer mais operações, estamos mais presentes nas ruas, o pessoal está motivado e a sociedade tem nos apoiado”.

Outra ação da polícia é a reconvocação de policiais aposentados. Esta semana, mais quatro homens passam a fazer parte, novamente, da tropa.

Outra questão abordada pelo comandante é a de que a sensação de insegurança ainda é realidade diante da criminalidade, mas que já existe certa tranquilidade da população em relação ao trabalho policial.

Desafio

Uma das esperanças da PM é que o governo municipal consiga sensibilizar o governo do Estado quanto à vagas para alguns infratores em Centros de Internação, “pois enquanto não conseguir vagas, não teremos redução nos índices”, afirma o comandante.

Outro desafio é diminuir o número de roubos ao entorno, principalmente, da Unifal (Universidade Federal de Alfenas). Segundo o comandante, ele tem se reunido com a reitoria para que algumas ações sejam realizadas com o retorno às aulas, tanto na parte externa quanto interna.

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O tenente-coronel reafirma que, mesmo diante de todas as dificuldades, já se pode notar um lado positivo nas ações policiais (Foto: Alessandro Emergente - Arquivo/Alfenas Hoje)

 

 



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