Postado em sábado, 24 de junho de 2023 às 22:10

Ministério Público formaliza denúncia por feminicídio contra homem que incendiou companheira

A vítima teve 70% do corpo queimado e ficou 25 dias internada, mas não resistiu.


 Alessandro Emergente

O Ministério Público Estadual (MP) formalizou a denúncia por feminicídio contra Jerferson Aparecido de Oliveira, 38 anos, que ateou fogo na companheira no início de maio. A vítima, que tinha 34 anos, morreu após ficar internada 25 dias. O crime foi no bairro Vista Alegre, em Alfenas. 

A formalização da denúncia pelo crime de feminicídio foi feita pelo promotor de Justiça, Frederico de Carvalho Araújo, da 5ª Promotoria de Justiça, no último dia 15. No documento, o representante do MP requer que a Justiça intime oito testemunhas para que sejam ouvidas pelo Judiciário. Entre as pessoas a serem ouvidas está uma mulher com quem o acusado teria um relacionamento amoroso.

A denúncia descreve a dinâmica dos acontecimentos, que levou a vítima a morte 25 dias após ela ter 70% de seu corpo queimado. A mulher, com quem o denunciado tinha dois filhos, chegou a ser transferida para o Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, mas faleceu no dia 31 de maio.

Relacionamento conturbado

De acordo com a denúncia, o acusado e a vítima mantinham um relacionamento amoroso desde 2012 e tinham dois filhos, um de 4 anos e outro com 10 anos. As crianças estavam na residência no dia em que mãe deles foi incendiada, segundo as investigações da Polícia Civil.

Ainda segundo o MP, o denunciado mantinha um relacionamento amoroso com outra mulher, com quem tem um filho de 5 anos. A relação com a vítima era conturbada e chegou a gerar três boletins de ocorrência por violência doméstica.

Os dias que antecederam o crime foram marcados por uma relação tensa, o que pode ser comprovado por meio de troca de mensagens por WhatsApp que foram anexas ao inquérito policial. Nas mensagens, a vítima chegou a manifestar o desejo de encerrar o relacionamento, porém houve ameaças, segundo aponta a Promotoria de Justiça.

A dinâmica do crime

De acordo com a acusação, no dia 6 de maio, Oliveira aproveitou que a vítima tinha saído com as crianças e foi até um posto de combustível, no Jardim Panorama, e pagou R$ 10,00 para aquisição de gasolina, armazenada em um galão. Ele retornou para a casa e deixou o recipiente no quarto de um dos filhos.

Pouco tempo depois, a vítima e as crianças chegaram em casa e ela foi para o seu quarto, enquanto as crianças ficaram assistindo televisão na sala. O acusado teria aproveitado o momento para praticar o crime, indo inicialmente até a sala e aumentado o volume do aparelho de TV.

Crueldade

Na sequência, relata o MP, ele foi até o quarto de um dos filhos, pegou o galão com gasolina e entrou de repente no quarto da vítima, surpreendendo-a. Ela estava deitada na cama, o que dificultou uma reação. O denunciado ateou gasolina e fogo no corpo da vítima, aponta o documento.

 

Jeferson Oliveira é acusado de feminicídio pelo Ministério Público (Foto: Diário Independente)



A denúncia relata que houve uma pequena explosão e, com isso, Oliveira levou as mãos no rosto e, em seguida, deixou o quarto, deixando para trás a companheira em chamas. Por essa dinâmica, o acusado chegou a ter queimaduras nas mãos, antebraços e nas costas. No tornozelo, ele teve queimaduras mais profundas devido respingos da gasolina.

Procurando abafar o fogo que a consumia, a vítima correu para o banheiro do quarto e se colocou sob o chuveiro. Na sequência, Oliveira retornou ao quarto e pegou a vítima, que estava extremamente debilitada, levando-a para a sala da residência.

Socorro e comportamento suspeito

O denunciado e o filho mais velho do casal entraram em contato com o Corpo de Bombeiros solicitando socorro, enquanto a vítima conseguiu entrar em contato com o irmão dela para que fosse até a residência da família, no Vista Alegre. No local, o irmão, ainda sem saber sobre a dinâmica dos fatos, chegou a ver a vítima com o corpo incendiado e com algumas partes em carne viva.

A mulher foi levada em estado grave para o Hospital Alzira Velano pelo Corpo de Bombeiros. No local, segundo a denúncia, o acusado ficou inquieto e dispensou atendimento médico para si, o que gerou protesto da equipe de profissionais de saúde.

Adulteração da cena do crime

Por volta das 16h, ele deixou o hospital e retornou para a casa, onde teria adulterado a cena do crime, gravado um vídeo e enviado para a família da vítima, alegando acidente doméstico causado pela explosão de um carregador de aparelho celular.

As investigações apontaram que o acusado alterou o local do crime ao quebrar o vidro da porta que dá acesso a distribuição de luz e desarmou o disjuntor do quarto, onde a vítima foi incendiada. Ele ainda teria arrancado a lâmpada de sua posição original e danificado o teto de gesso. Em seguida, carbonizou parcialmente um carregador de celular, acoplado em um fio e em um “T”.

"O local vistoriado possuía evidências de ter sido alterado intencionalmente haja vista a tentativa de dissimular que a ignição ocorreu em razão de curto-circuito elétrico do carregador de celular ligado a tomada”, aponta as investigações.

Além disso, os investigadores encontraram, no quarto da vítima, um palito de fósforo caído no piso, além de perceberem forte odor de gasolina, o que chamou a atenção dos policiais.

Os resquícios de gasolina foram encontrados nas roupas tanto da vítima quanto do acusado pela perícia técnica. “A análise técnica efetuada nas roupas que o incendiário e a vítima vestiam por ocasião do crime comprovou que nelas haviam ‘traços de hidrocarbonetos leves, incluindo tolueno e xilenos, compatíveis com resíduos de gasolina’”, diz a denúncia fundamentado na perícia da Polícia Civil.

 



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