Postado em sábado, 23 de abril de 2022 às 10:03

Aposentada sai sozinha em mochilão pelo mundo e já conhece 50 países

Josefa Feitosa, de 62 anos, conversa com mulheres da mesma faixa etária para incentivá-las a descobrir novas formas de vida após a chegada à terceira idade


 Quando se aposentou após 29 anos de trabalho, Josefa Feitosa, de 62 anos, sentiu que sua cabeça estava como uma “caçamba de lixo”. Enquanto trabalhava como assistente social em presídios, a aposentada ainda acumulava as tarefas de cuidar dos três filhos, ser professora e dona de casa, já que, no fim da jornada dupla de trabalho, ainda tinha que fazer a limpeza da casa e preparar a comida para a família.

“Eu estava muito cansada de ver rebeliões em presídios, fazer relatórios, escrever pareceres… Enfim, cansada de ser assistente social”, conta a mulher, que é nascida em Juazeiro do Norte, no Ceará. Mas para além do esforço profissional, o desgaste de Jofesa se acumulou para o campo pessoal. “Eu estava cansada de ser mãe e de ser a mulher poderosa que consegue fazer tudo”, afirma Josefa.

A forma que Josefa encontrou para descansar foi explorar o mundo sozinha e com uma mochila nas costas. Mas não foi uma decisão fácil. “Tinha medo de sofrer xenofobia, racismo… Afinal, sou uma mulher preta. Também tinha medo de me arrepender, de não conseguir lidar com outros idiomas e de me perder, já que não entendia nada de tecnologia”, conta.

Mesmo com medo, Jofesa decidiu se arriscar. “Se não desse certo, voltaria.” O primeiro destino escolhido por ela foi Portugal, por conta da língua e dos amigos que por ela esperavam. Então, em 2016, ela partiu para o país lusitano e acabou estendendo a viagem para outros países da Europa.

Na viagem, Josefa conseguiu perceber, sim, que ela daria conta de fazer tudo o que quisesse. Então, de lá pra cá, ela já contabiliza mais de 50 países por onde passou. Dentre as experiências que mais a marcaram, está a passagem pela África do Sul.

“Foi o primeiro país africano onde pus os pés, e lá me senti em casa. Vi um bando de pessoas pretas, e, no dia seguinte, já estava fazendo tranças. Foi lá que mergulhei em minha ancestralidade”, afirma.

“Decidi me amar”
Com o novo estilo de vida, Josefa rompeu um papel que seria naturalmente dedicado a ela: o de ser avó. “Quando chegamos nessa idade, nós, mulheres, nos tornamos mães de novo quando cuidamos dos nossos netos. Mas nem sempre precisa ser assim: há uma luz no fim do túnel”, diz.

Com isso, Josefa diz que encontrou “novas oportunidades de se amar.” “Quando chegamos aos 60, ficamos meio perdidas e temos a sensação de que não nos resta muita coisa… Mas, temos, sim! Podemos nos ‘vingar’ do casamento escroto, da juventude tóxica. Não devemos nos importar com os números”, fala.

O movimento da aposentada, a propósito, chama a atenção de outras mulheres que se encontram na mesma idade dela. “É uma nova forma de ver a vida. Tenho falado muito com mulheres que estão tentando se encontrar, as que estão cansadas de ser mãe, que existe uma vida inteira para experimentar fora da caixinha”, diz.

Viagem com mala de 10 quilos
Josefa conta ser adepta do minimalismo para viajar. Por isso, ela carrega consigo uma mochila com apenas 10 quilos. A verdade é que não precisamos de muitas coisas. Eu levo comigo cinco looks de roupas, que se transformam em vários, além de um casaco bom. O importante é conseguir comer bem e levar consigo boas memórias”, comenta.

Além disso, Além disso, Josefa se organiza gastando, no máximo, US$ 30 por dia, incluindo gastos com alimentação, passagem e hospedagem. “Os voos representam o meu maior gasto. Gosto mesmo é de viajar de ônibus, pois acabo conhecendo muita gente”, afirma.

Para se bancar, Josefa usa a aposentadoria. “Cheguei a ter propriedades, mas dava muito trabalho ficar lidando com aluguéis estando longe. Então, resolvi doá-las para os meus filhos: foi libertador”, diz.

Apoio da família
Josefa conta que, quando decidiu sair pelo mundo, a família se mostrou preocupada, pois os filhos acreditavam que ela poderia não dar conta ou mesmo se perder. Mas, depois das primeiras viagens, a família percebeu que Josefa conseguia se virar muito bem sozinha.

“Teve uma vez, que fiquei seis dias sem dar notícias. Mas hoje tenho um combinado: pelo menos uma vez a dia, preciso dar notícias minhas”, comenta.

Josefa fala também que, desde que colocou os pés na estrada, a relação com a família melhorou muito. “Eu era muito apegada, controladora, colocava meus filhos em uma redoma. Mas agora, quando olho para o meu passado, vi que progredi muito, pois deixei o controle sobre eles”, diz, pontuando que se tornou amiga dos filhos após decidir explorar o mundo.

FONTE: O Tempo



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