Postado em sexta-feira, 15 de abril de 2022 às 10:17

´Não tenho como ensinar a economizar quando o salário não é suficiente para o básico´, diz Nath Finanças

Influenciadora falou ao podcast Educação Financeira sobre como orientou seus seguidores durante a pandemia e as dificuldades de criar caminhos de organização financeira em um ambiente de inflação de dois dígitos.


 Um lugar de destaque na internet é disputado a tapa por aspirantes a influenciador. Uns fracassam, outros são alçados a fenômeno digital. A administradora Nathalia Rodrigues incontestavelmente faz parte do segundo grupo.

Em quatro anos, botou de pé uma empresa de conteúdo com 12 funcionários e alçou sua marca pessoal, a Nath Finanças, ao posto de referência em finanças pessoais para um público de renda mais baixa, que por muito tempo havia sido deixado de lado.

Aos 23 anos, ela lança nesta quarta-feira (6) mais um braço da empresa. O "Nath Estudanças" é um grupo de estudos, conduzido por ela mesma. O curso trata, de forma mais profunda, seus temas tradicionais, como planejamento financeiro, plano de ação, cartão de crédito e reserva de emergência. Serão oferecidas bolsas sociais a quem não puder pagar a inscrição.

Em entrevista ao podcast Educação Financeira, Nath contou como sua empresa cresceu na contramão da crise que se instaurou no país durante a pandemia do coronavírus. Por óbvio, ela também compartilha sua visão sobre os desafios de 2022 para as finanças pessoais.

Quando eu criei a Nath Finanças, coloquei ‘educação financeira para as pessoas de baixa renda’. De um tempo para cá percebi que não são só pessoas assalariadas, que ganham um salário mínimo, que me acompanham. São pessoas que acabaram de ser promovidas e não sabem o que fazer com essa grana. Ou pessoas que só não sabem se organizar.

Mas o slogan precisa retratar a realidade brasileira. É de quem, nesse momento difícil, tanto precisou do auxílio emergencial ou teve redução salarial. Infelizmente, é uma realidade de quem não ganha o suficiente para ter um lazer, que precisa de dois ou três empregos para conseguir ter o mínimo de dignidade.

O que mudou no seu trabalho desde a chegada da pandemia?
Quando veio a pandemia, em 2020, eu falava sobre como economizar no carnaval, dicas de economia doméstica mesmo. Quando tudo começou, em março, falava-se muito sobre ‘como investir na bolsa’, aproveitando que a taxa Selic estava baixa, em 2%. Mas o meu público é a pessoa que perdeu o emprego, que está precisando de renda.

Meu foco foi falar sobre o auxílio emergencial, que nem tinha sido aprovado. Falamos sobre o saque emergencial do FGTS. Foquei bastante nesses assuntos e como quitar dívidas e dando dicas de negociação.

Também me juntei a outras pessoas influentes para pressionar pela aprovação do auxílio emergencial com valor mais justo para a população de baixa renda, e isso deu muito certo. Falava-se muito que os beneficiários queriam usar o dinheiro para fazer churrasco, sabe? As pessoas estavam usando para realmente se alimentar.

Eu poderia estar falando sobre investir na bolsa, porque eu estava investindo na bolsa. Eu tive uma ascensão financeira porque eu cresci muito rápido na internet. Mas eu quis focar no público que estava precisando dessa grana e querendo saber como lidar com esse momento difícil.

E como foi esse período para você, como empresária?
Em 2020, fiz minhas primeiras contratações. Eu trabalhei 100% sozinha até março daquele ano. A partir dali, comecei também a falar sobre a ‘Nathalia Empresária’.

Como eu me formei em administração de empresas, sempre falei que se fosse para ter uma empresa, seria um lugar que valoriza o colaborador. Eu já fui CLT e sei como é levar marmita. Não quero que as pessoas precisem levar marmita, entende? Quero que elas tenham um vale-refeição, vale-alimentação, um plano de saúde, odontológico. Tudo isso requer investimento, então fui fazendo aos poucos.

Não foi fácil, confesso para você. Foi difícil ver uma população toda passando dificuldade, voltando para a linha da pobreza, e, ao mesmo tempo, eu estar crescendo como empresária, pagando bem as pessoas que trabalham comigo.

Fiquei com muito medo. Quanto mais você cresce, mais fica receosa. Bate, às vezes, uma síndrome de impostora. Será que realmente está dando muito certo ou tem que guardar o máximo de dinheiro possível porque isso vai acabar algum dia? Mas vejo que o meu público veio junto comigo.

Sempre fui 100% sincera e verdadeira. Conto abertamente sobre o que eu faço de benefício para as pessoas que trabalham comigo, conto sobre o faturamento da minha empresa.

Então, quando eu tive um bom faturamento, contei pra eles. Quando deu algo errado, também contei. Ter essa transparência fez eu não perder o público. Pelo contrário, ficaram felizes com meu crescimento. Na verdade, ganhei públicos diferentes. Antes, era 100% a galera de finanças e, hoje, tem um misto de pessoas que querem conhecer também as diversas batalhas.

Falando como conselheira de finanças, qual é o grande desafio de 2022?
Conseguir dar conta de um salário mínimo nesse momento de inflação de dois dígitos. O que me dói é não ter como dar uma dica nessa situação. ´Ah, agora o gás está caro, vamos usar lenha.´ Gente, pelo amor de Deus! Não tem como eu dar uma dica dessa.

É injusto com as pessoas que querem ter o mínimo de dignidade. Não tenho como ensinar formas de economizar que não vão ser efetivas porque o salário não é o suficiente para honrar com as obrigações financeiras básicas.

O que você tem falado para sua audiência?
Não me sinto confortável de falar para trocar a marca ´tal´ por outra mais barata. Prefiro falar para que anotem o máximo de gastos possível.

Muita gente pergunta sobre renda extra. Então, eu mostro que eles podem ganhar dinheiro com pesquisas, ensino como não pagar tarifas bancárias nesse momento, sobre como utilizar o cartão de crédito sem se endividar, como observar os juros…

Costumo divulgar também os feirões para negociar até 90% de uma dívida. Recentemente, falei também sobre o FIES, agora que tem a possibilidade de abater bastante dessa dívida. As dicas de economia doméstica já não solucionam um problema que é mais estrutural.

Com tudo isso em conta, você está otimista para o futuro?
Eu estava otimista, né? Mas confesso para você que só vou ter esse otimismo se tirar esse governo. O avanço das vacinas já ajudou a ter um mínimo de vida voltando a caminhar, mas não vai voltar ao normal. São mais de 600 mil pessoas que morreram.

As finanças, a economia e a política se misturam. Quem toma a decisão se vai ter uma nota de R$ 200, se vamos poder realizar parcelamentos ou se haverá mudança nos juros são órgãos do Banco Central.

No fundo, são políticos ou indicados por políticos. Mas são decisões que afetam as finanças pessoais. Então, se a gente tomar essa consciência ao votar, talvez tenhamos uma melhoria. Estou otimista, mas para 2023.

FONTE: G1 Globo



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