Postado em 28 de novembro de 2021

A arte da gratidão

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 Nas portas para adentrarmos no período natalino, visualizamos os primeiros sinais desse tempo festivo: lojas enfeitadas, praças iluminadas. Mas, o que realmente chama a atenção é o sentimento de gratidão que toma conta das pessoas.

Gratidão não é ansiedade com o que virá, isso caracteriza a vida do tolo como explica o filósofo da Antiguidade Grega Epicuro. Gratidão é o inverso do arrependimento, “é regozijo com o que passou ou com o que é”. É compreender nossa história de vida, nos acertos e erros e, reconciliar com presente.

Para o filósofo Espinosa é alegria que acompanha a ideia de sua causa. Saber ver no outro a causa de nossa alegria. Segundo André Comte Sponville, “a gratidão é considerada a mais agradável das virtudes, e o mais virtuoso dos prazeres.” Supera o egoísmo e conduz à contemplação da beleza.

Gratidão consiste na alegria de ser alegre; já, a ingratidão, consiste na tristeza em não reconhecer que se deve ao outro. Gratidão é partilha, ingratidão é incapacidade de retribuir o que recebemos pela graça da vida. Gratidão é virtude que nutre a generosidade, ingratidão é amargo vício, resultante do amor próprio, autêntico atestado de mediocridade.

O mais universal poeta português, Fernando Pessoa, proclamou: “Benditos sejam os instantes, e os milímetros, e as sombras das pequenas coisas”, bem como está gravado nas Escrituras Sagradas, em 1º Tessalonicenses 5:18, “Deem graças em todas as circunstâncias.”

O ensaísta, poeta e especialista em estudos bíblicos, Cardeal José Tolentino chega a afirmar que devemos ser gratos até mesmo pelo que não deu certo em nossas vidas, pois contribuiu para que sejamos quem somos hoje.

Acima de tudo gratidão é sinal da presença do Sagrado, até mesmo em situações de extremo sofrimento, como o vivenciado pela jovem Etty Hillesum, uma das grandes vozes espirituais da contemporaneidade, morta em Auschwitz, em 1943: “quero dizer que há lugar para belos sonhos junto à mais cruel realidade e continuo a louvar tua criação, Deus apesar de tudo”, e espantosamente escreve, “apesar de todo o sofrimento e injustiça em curso, eu não consigo odiar as pessoas.”

A trajetória espiritual de Etty Hillesum é marcada pelo seu mantra recitado em suas orações:” A vida é Bela e cheia de sentido”, demonstrando assim uma extraordinária capacidade de resistir as vicissitudes, em uma êxtase de gratidão.

O escritor franciscano Eder Vasconcelos, em seu o livro “A arte da Gratidão”, (ed. Sinodal) demonstra com ‘Vigor e Ternura’ o sentido da gratidão: “integra toda a vida: o bom e o ruim, o júbilo e o sofrimento, o belo e feio, o sagrado e o que não é tão sagrado”. Para o franciscano, gratidão vai além de um exercício mental: “é uma atitude de nosso coração, que reconhece os dons e talentos que recebemos do Deus da vida”.

Nesse percurso doloroso que a humanidade está passando chega ser profético a virtude da gratidão, um recomeçar, que nos ajuda até mesmo superar limitações, como discorre Eder Vasconcelos, “A vida em estado permanente de gratidão nos torna homens e mulheres plenamente livres e felizes”. Viver em estado de gratidão é dizer sim e amém, a plenitude da vida e, lutar para que todos possam desfrutar, como filhos e filhas de Deus, dessa mesma plenitude.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



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