Postado em 21 de outubro de 2021

Como o Racismo Criou o Brasil

Autor(a): Roberto Camilo Órfão Morais

 Na área das Ciências Sociais, o ano de 2021, está sendo marcado pelo lançamento do livro Como O Racismo Criou o Brasil, do sociólogo Jessé Souza. No qual o autor defende a tese de que o racismo racial é o grande responsável pelo atraso moral, social e político do Brasil.

Jessé Souza descreve a maneira como a moralidade do Ocidente foi historicamente construída. Como necessidade universal de reconhecimento social da autoestima de uns e, de negação desse reconhecimento para muitos outros. Processo histórico, permeado pela existência de diversos tipos de racismo, que classifica como multidimensional, menos visível que o racismo racial, mas, presente em todas as sociedades.

Explica que a genealogia do pensamento ocidental, está na concepção dualista grega – Espírito e Corpo. Tendo como uma das variáveis dessa origem, a classificação, dos que podem dedicar ao aperfeiçoamento do espírito, ter privilégios e aqueles inferiores, ligados ao corpo, a degeneração e, que devem trabalhar; consolidando assim, a desigualdade social.

Realiza enfática crítica ao oportunismo político, como o “lugar de fala”. Segundo Jessé Souza, “se pretende autorizado a falar por uma coletividade que foi convenientemente reduzida ao silêncio”. Desmonta a falácia do capitalismo financeiro que, se utiliza da linguagem do antirracismo, para se legitimar e ampliar seu mercado de consumidor.

Salienta de uma maneira didática o significado de compreender efetivamente o racismo: “demonstrar como ele destrói o reconhecimento social de que todos nós, sem exceção, como seres frágeis, transitórios e carentes que somos, necessitamos para levar uma vida digna desse nome”. Portanto, fica evidenciado que o racismo é uma ferida profunda e covarde (principalmente o racial), em suas variadas manifestações.

Esclarece que o racismo multidimensional, perpetua, a sina da vítima perseguir a própria vítima, o pobre honesto X o pobre delinquente. Pontua com toda clareza: “O ódio racista aos mais frágeis é uma típica compensação psíquica de ressentimento e da inveja em relação ao dominador”. Realidade esta, guardadas as devidas exceções, potencializada pela tolice da intelectualidade brasileira dominante que, culpa a própria vítima.

Na análise do autor, cria-se dessa maneira, ambiente para os racistas manifestarem publicamente seu ressentimento social, travestido de discurso moralista, comparado ao uma fantasia vestida, para não serem reconhecidos pelo que realmente são.

Discurso que esconde a recusa em admitir a possibilidade de acesso das classes populares, a universalização do reconhecimento social. Jessé Souza expõe que toda vez que surge a possibilidade desse acesso, são dados golpes políticos, impedindo a equidade social. Tudo em nome de um moralismo, que se compara à uma espécie de doença da ética.

O sociólogo conclui o livro afirmando que o caminho não é outro, senão a luta contra o racismo, racial e multidimensional, através do que ele considera essencial: “universalização das benesses do mundo moderno para todas as classes e todas as pessoas. E, com isso, quebrar 500 anos de uma servidão que é, hoje, de todos nós, brancos e negros, mulheres e homens, ricos e pobres”.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Roberto Camilo Órfão Morais
Professor
Professor de Ciências Humanas do Instituto Federal Sul de Minas - Campus Machado.



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