Postado em quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Análise: Galo sofre com falta de identidade e se complica por não saber o que quer

Atlético-MG encontra dificuldades com as constantes trocas no comando técnico e no estilo de jogo, que precisam de tempo para dar resultado


O ponto forte do Corinthians é a defesa, é um time que toma poucos gols. A afirmativa vale para o time de Fábio Carille, de 2017, mas vale também para as equipes dos antecessores Tite, Mano Menezes e muitos outros desta década. O estilo de jogo do Corinthians é este. É uma equipe segura, bem montada, com muita compactação e facilidade para contra-atacar. É a identidade da equipe, que colhe os frutos por saber, já há algum tempo, exatamente o que quer em campo, em casa ou fora. E é justamente isso o que está faltando ao Atlético-MG, mais recente vítima do time paulista: saber o que quer.

Para pegar o mesmo recorte, o Galo começou a década com uma complicada temporada em 2011, lutando contra o rebaixamento no Brasileirão e sendo goleado pelo rival no último jogo do ano, mas, logo na sequência, decidiu o que queria. Em 2012, começou a montar um grupo e um time que era fácil de ser descrito: intenso, veloz, agressivo. Ronaldinho, Bernard, Jô e companhia bateram na trave em 2012, sob comando de Cuca, mas colheram os frutos em 2013. O treinador foi mantido, reforços pontuais contratados, e o mais importante: o estilo de jogo permaneceu. O "Galo doido" conquistou a Libertadores e não parou.

No ano seguinte, Cuca não estava mais no comando, mas o padrão continuou. Paulo Autuori durou pouco tempo e deu lugar a Levir Culpi - com a vida ganha, divertido e sem medo de ousar. Levir manteve o time para frente, vertical. O elenco mudou um pouco, mas rapidamente o time voltou a se entender. Resultado: campeão da Recopa Sul-Americana e da Copa do Brasil, com uma campanha memorável, a exemplo do título da Libertadores no ano anterior, e vitória sobre o maior rival na decisão.

A partir daí, o Galo passou a sofrer com uma crise de identidade. "Com que roupa eu vou para o samba que você me convidou?", diz a música. "Como vai para o jogo o Galo?", fica a dúvida. Aguirre tentou fazer rodízio, não funcionou. Marcelo Oliveira não conseguiu dar uma cara ao time. Naturalmente, também não funcionou. Roger Machado quis a posse de bola, um time mais cadenciado. Não deu certo. E nem tinha como dar. Não em curto prazo.

Mudar de estilo não é da noite para o dia, não tem como ser. Automatizar demanda tempo. Não há nenhum problema em alterar a filosofia de um time, desde que se entenda a necessidade de ter paciência para que isso aconteça.

O Galo de Roger vai se transformando no Galo de Micale, que, aparentemente, também gosta de um time mais ofensivo, que busca o gol com maior frequência. A transição, porém, não faz bem para a equipe, especialmente se ela acontecer no meio da temporada, quando não se tem tempo para treinar e acostumar com as jogadas, os movimentos, os padrões.

O Atlético-MG não foi pior que o Corinthians em campo nesta quarta, nem tem um time menos talentoso. Foi "só" menos - e muito menos - ciente do que precisa fazer. Ainda tem um pouco do time de Roger, já tem um pouco a cara de Micale. Enquanto isso, o time está sem cara. Ainda precisa tentar salvar a temporada, claro. A Libertadores está aí e pode ser conquistada. Mas, de qualquer maneira, fica a lição para o próximo ano: só é feliz quem sabe o que quer.
 

 

Fonte: Globo Esporte



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