Postado em terça-feira, 17 de janeiro de 2017 às 14:17

Voluntários criam rede solidária de comunicação

Grupo divulga informações da cidade e organiza campanhas beneficentes. Rede soma mais de 3,5 mil membros em 21 grupos de Whatsapp.


Do G1 Sul de Minas

O celular da vendedora Cinthia Silva, de 27 anos, dispara o dia todo. São dezenas de mensagens diárias vindas do aplicativo de mensagens e ela já sabe que algo de importante está acontecendo. Cinthia é uma das 21 voluntárias que participam de uma rede solidária de comunicação em Varginha (MG). O que começou com poucos amigos se ajudando no trânsito, hoje soma 21 grupos no aplicativo com mais de 3,5 mil membros que passam informação de tráfego e problemas na cidade, ajudam moradores a encontrar de cachorrinhos perdidos a muletas, e divulgam as campanhas beneficentes organizadas pela rede.

O primeiro grupo surgiu em julho de 2014 por uma causa não muito digna: os amigos se informavam sobre blitzen de trânsito. Charone Borato, analista de importação de 27 anos, foi quem começou o grupo. “Só eu tomava conta, pois era somente pra amigos na época. Porém, um amigo foi chamando o outro, pediam pra adicionar, e aos poucos foi tomando uma grande proporção”, conta. Agora divulgar blitz é proibido e a temática do grupo se alterou rapidamente na mesma proporção em que foram surgindo novos membros.

De repente, alguém presenciava um acidente na Rua Antônio Carlos e avisava para o grupo. Outra pessoa enviava uma mensagem dizendo que um buraco atrapalhava o fluxo em outra avenida, e assim, o grupo de amigos se transformou em um boletim do trânsito na cidade entre os participantes.
O SOS cresceu desse jeito não por causa dos administradores, mas por conta das pessoas que estão dispostas a ajudar."
Gustavo Paiva, administrador voluntário do SOS Varginha

“Acidente de trânsito impedido, mudança de via. Sempre que a informação chegava, era replicada, ajudando todo mundo a evitar o lugar, pra facilitar a vida de todo mundo”, explica Gustavo Paiva, de 32 anos, professor de história e um dos administradores mais antigos do grupo.

“Hoje divulgar blitz é proibido no grupo e virou muito mais um grupo sobre cidadania de Varginha. O objetivo, de fato, é melhorar Varginha, não só através de assistencialismo, mas através da ajuda alheia, comunicação entre todos, do debate, da crítica”, completa.

Mural do bem
Num primeiro momento, todas as informações que chegavam eram passadas imediatamente para o grupo, mas os voluntários perceberam o problema disso à medida que muitas pessoas passavam a contar com o grupo. “Nós começamos a ver que tem muita informação falsa, muita corrente, informação que necessitava da correção de um detalhe ou outro”, continua Paiva.

Para continuar o serviço de forma eficiente, foi preciso organizar a mecânica do grupo e assim começou a se delinear o SOS Varginha. Os primeiros membros começaram a filtrar as pessoas que tinham perfil para organizar as informações, para que se tornassem administradores oficiais dos grupos.

“Hoje em dia, algumas informações mais completas são checadas primeiro com Corpo de Bombeiros, Samu, reportagem ou até com outras informações que possam complementar a inicial. Alguns integrantes [do grupo], que são mais confiáveis, tiram fotos em tempo real, [mas] a pessoa que manda é questionada pelo administrador: ‘foi você que tirou a foto, pode usar’, a pessoa confia pra gente e a gente repassa para os demais grupos”, completa Paiva.

Cada grupo do SOS, atualmente, tem pelos menos dois administradores para ajudar a coordenar as mensagens, que são repassadas para todos os grupos. Dois administradores estão presentes em todos os grupos, em caso de necessidade. Todos são voluntários e fazem isso por acreditar na importância de fornecer de forma rápida uma informação que chega diretamente à população.

“As coordenações de atividades são feitas de acordo com a disponibilidade de cada um, que também têm seus empregos e afazeres. Na medida em que os administradores podem ajudar, eles se voluntariam. Ninguém imaginou que ia tomar essa proporção, nunca foi a ideia. Mas a ideia foi boa, excelente, e foi muito bom.”

Campanhas solidárias
Com as informações sobre trânsito começaram a surgir também nos grupos pedidos de ajuda dos quatro cantos da cidade. Algumas pessoas pediam leite em pó, roupas, muleta. “No momento que jogava no grupo, tinha uma resposta muito rápida, quase imediatamente conseguia uma ajuda pra essa pessoa que pediu, e isso surpreendeu muito”, conta Paiva.

Os próprios administradores começaram a recolher as doações e distribuir para as pessoas que pediam, e aí surgiu a ideia de organizar campanhas do próprio grupo para ajudar a população. Em dezembro, o SOS organizou pelo segundo ano consecutivo a campanha Natal Solidário e conseguiu recolher 50 cestas básicas, que foram doadas para as famílias que já pediram ajuda para o grupo. A entrega foi feita no dia 24 de dezembro.

“Foi muito gratificante receber o carinho de cada família que visitamos no Natal, não teve preço. Consideramos algo pequeno que fizemos frente à necessidade das famílias. Mais do que uma cesta básica, fomos levar um Feliz Natal e a esperança do amor ao próximo”, declara Cinthia.

Além do Natal Solidário, outras campanhas se tornaram fixas no grupo. No meio do ano, os voluntários reúnem alimentos doados pelos participantes e fazem o "Sopão do SOS", servido comida quente nos dias de frio para instituições beneficentes da cidade.

O “Setembro Amarelo” divulgou pela internet informações de prevenção ao suicídio para a população, falando dos sintomas e como lidar com isso, e em um dia o grupo fez uma ação no Centro da cidade entregando uma mensagem motivacional e um balão amarelo. A mesma campanha foi feita no “Outubro Rosa”, de conscientização do câncer de mama.
Cinthia Silva durante campanha Setembro Amarelo, que informou sobre prevenção ao suicídio, SOS Varginha.

No Dia das Crianças, os voluntários conseguiram, por dois anos consecutivos, doações de brinquedos, material escolar e roupas. Para divulgar as campanhas, os voluntários usam a página no Facebook do grupo, que tem mais de 5,5 mil curtidas participantes, os grupos de whatsapp e parcerias com os meios de comunicação, como alguns blogs e veículos de imprensa.

“O SOS cresceu desse jeito não por causa dos administradores, mas por conta das pessoas que estão dispostas a ajudar. Não só entram no grupo para receber informações sobre trânsito, mas a maioria está no grupo porque sabe e quer também ajudar a população carente de Varginha”, diz Paiva.

Comunicação popular
Na última contagem feita pelos voluntários no final do ano passado, o SOS Varginha reunia 3.557 membros nos 21 grupos. Apesar de ter começado com um grupo jovem, hoje há membros de todas as idades. A faixa etária entre 30 e 60 anos ajuda, principalmente, nas campanhas sociais.

“Não enxergamos como uma concorrência [com os meios de comunicação], porque nunca um grupo de Whatsapp vai ter a qualidade bem feita de um jornal, de uma reportagem, cada um tem o seu espaço. É legal que tenha uma comunicação à parte dos veículos tradicionais de comunicação, porque pelo aplicativo e redes sociais é muito mais rápido. A troca é imediata, tanto no pedido de ajuda quanto no aviso”, explica Paiva.

Os voluntários agora esperam se consolidar como um veículo de cidadania, não só informando sobre os problemas da cidade, mas sendo um porta-voz para tentar resolvê-los. “A gente não enxerga só no social e no trânsito a atuação nossa, é na cidadania de maneira geral. E a política é cidadania, e eu acho que é muito pouco criticada aqui [na cidade], de maneira boa, pra gente crescer mesmo. Um dos nossos posts que deu mais participação foi quando nós postamos sobre os buracos da rua”, explica Paiva.

Para o futuro, a ideia do grupo, segundo Paiva, é aumentar o número de voluntários para que outros projetos sociais saiam do papel. “Todo mundo tem sua vida, trabalha, paga conta, tem seu lazer, e nós colocamos nosso tempo nisso. A ideia é que continue em expansão sempre, cada vez mais pessoas participem e está aberto a todos. Divulgar bastante os resultados, pra ajudar mais gente, e por aí vai.”

G1 Sul de Minas


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